Martírio de Joana (sobre o julgamento) – “Todos os inquisidores acreditaram que seria um processo rápido, simples e fácil. A justiça medieval era sumária. Um rápido interrogatório e a absolvição ou a morte. O processo de Joana durou três meses, fora um ano em que estivera presa. Tempo demais para um julgamento daquela época. E isto porquê? Porque imaginava-se que ela, uma jovem analfabeta, simples, humilde, que não sabia sequer escrever o próprio nome, cairia como um passarinho diante das perguntas incisivas, dúbias, cheias de segundas intenções de seus interrogadores, perguntas sobre teologia, aspectos doutrinários da fé, a diferença entre Igreja triunfante e Igreja militante, que evidentemente Joana não tinha a mínima idéia do que se tratava. Mas seus inquisidores não contavam com a inteligência, perspicácia, inspiração e raciocínio rápido de Joana. Para saber que estamos realmente à frente de um prodígio inspirado por leis ocultas, só analisando as quinze sessões do interrogatório de Joana D’Arc e observando minuciosamente as suas respostas, que deixaram os doutos e juízes boquiabertos, estupefatos, diante de tamanha inteligência e desenvoltura. O relator do processo Guilhaume Manchon chegou a dizer que só uma enviada dos céus poderia safar-se como ela das perguntas maliciosas de seus interlocutores, homens letrados de profunda erudição. Só para citarmos um exemplo, questionada sobre se ela estaria na graça de Deus, Joana pensou: se respondesse que sim, seria condenada por presunção; se dissesse que não, seria condenada por estar em pecado, e respondeu: "se estiver na graça de Deus, que nela eu permaneça; se não estiver, que Deus nela me coloque”.
"(…) E assim, a inteligência e intuição dessa camponesa, que todos julgavam ignorante, surpreendeu a todos. Não havia meios de condená-la. Ela não se deixava cair. A solução vista pelo bispo foi fazê-la assinar uma abjuração. Como Joana não sabia ler, foi-lhe dito que o texto narrava que, se ela prometesse não guerrear mais, voltar a seus pais e nunca mais vestir-se com trajes de homem, ela seria condenada a prisão perpétua, mas escaparia da fogueira. Ao que Joana teria perguntado se poderia, neste caso, ir à missa, confessar-se e se ficaria numa prisão eclesiástica e não numa prisão militar, entre os ingleses como então ela estava. A todas estas perguntas foi-lhe respondido que sim. Então Joana assinou uma abjuração, que segundo consta em alguns relatos, continha exatamente o contrário de tudo isto. Nela Joana se reconhecia herege, que havia se equivocado na fé, que havia sido conduzida por Satã e não por Deus. Como se não bastasse, Joana fora traída, pois após assinar a abjuração, ela foi devolvida imediatamente para a mesma prisão inglesa onde estivera até então".
continua...
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