quarta-feira, 22 de julho de 2015

Gebo


Para os antigos nórdicos a generosidade era a maior das virtudes. Mas os nórdicos acreditavam também que não devemos dar demais, porque uma dádiva exige outra dádiva, e porque é essa reciprocidade que mantém o ciclo da generosidade.

Dar, sim, mas não dar mais do que podemos e temos para dar, porque aí não teremos mais para nós, nem para mais ninguém.

Por isso a Runa Gebo - que representa este arquétipo - significa dar e também receber, em equilíbrio, e pode manifestar-se de diversas formas (amor correspondido, amizade verdadeira, conexão com o divino em nós, generosidade, presentes).

[Vera Vieira da Silva]

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Denis Mukwege


"Denis Mukwege, médico congolês que tem dedicado a sua vida a assistir mulheres vítimas de violação na República Democrática do Congo, é o vencedor do Prémio Calouste Gulbenkian 2015."

Fonte: Site da Fundação Calouste Gulbenkian (ver aqui )


No meu último artigo para o Sapo Lifestyle, "Vontade de viver, Vontade de morrer", falei neste ser humano extraordinário, que para além da assistência médica que tem dado a dezenas de milhares de mulheres vítimas de violação no Congo, tem trabalhado incansavelmente para alertar a comunidade internacional e pedir a sua ajuda no combate aos horrores que se passam neste país, mesmo após ter sofrido atentados que vitimaram também a sua família. Este é um homem de uma imensa coragem, um exemplo vivo do que é trabalhar pela comunidade e pela humanidade. Muitos Parabéns, Denis Mukwege *

domingo, 12 de julho de 2015

Olha a Laranja

Uma música de uma nostalgia maravilhosa... da autoria de Fernando Lopes-Graça.




"Olha a Laranja", de Fernando Lopes-Graça

 Coro de Câmara de Lisboa
 Direcção do coro: Teresita Gutierrez Marques


Olha a laranja

Esta rua tem pedrinhas, 
esta rua tem pedrinhas, 
esta rua pedras tem. 

Eu das pedras não quero nada, 
eu das pedras não quero nada, 
mas da rua quero alguém! 

Olha a laranja do meu quintal 
olha a laranja do meu lindo laranjal 

Eu já disse à laranjeira, 
eu já disse à laranjeira, que não desse mais flor. 

Que passasse sem laranjas, 
que passasse sem laranjas, 
como eu passo sem amor! 

Olha a laranja do meu quintal 
olha a laranja do meu lindo laranjal! 

Olha a laranja


domingo, 5 de julho de 2015

Como acabar com a discriminação

Morgan Freeman, na sua imensa sabedoria, explica de forma muito simples como acabar com o racismo, num conselho aplicável a qualquer tipo de discriminação.

É tão simples: enquanto rotularmos - mesmo com o objectivo de valorizar quem é alvo de discriminação - estaremos a distinguir as pessoas com base em aspectos que não as definem, nem são as pessoas. 

Rotular é o início da discriminação, e o que pretendemos é o oposto. É altura de parar de criar rótulos e parar de falar neles. Vamos unir-nos, mas não com base em raça, cor, etnia, género, orientação sexual, religião ou seja o que for. Vamos unir-nos uns aos outros apenas por quem somos, vamos unir-nos apenas porque sim.

 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Vontade de viver, vontade de morrer


Sobre o Mundo e o nosso mundo, sobre a Vida e a Morte, sobre o entusiasmo pela vida e o desânimo que leva a querer morrer, sobre problemas e soluções. O artigo desta semana para o Sapo Lifestyle.

http://lifestyle.sapo.pt/astral/espiritualidade/autoconhecimento-espiritualidade/artigos/vontade-de-viver-vontade-de-morrer


Vontade de viver, vontade de morrer


Algumas pessoas têm sempre um sorriso no olhar, como se na sua vida não houvesse sofrimento, e outras sentem-se tão descontentes que chegam a tirar a própria vida. O que há de tão diferente entre elas? Problemas ou atitudes? 
 

Quando ouvimos a notícia de que alguém cometeu suicídio, presumimos geralmente que essa pessoa tinha de estar num sofrimento atroz. Por outro lado, curiosamente, também presumimos que uma pessoa de disposição alegre e brincalhona teve uma vida de facilidades e nunca sofreu na vida. Ambos são juízos precipitados, que devemos ter muito cuidado ao fazer.

Em primeiro lugar, problemas não são comparáveis, porque as pessoas não são iguais. Cada pessoa lida com as suas dificuldades e com as suas alegrias de acordo com quem é, e na sequência de experiências que teve antes. Não somos neutros, e aquilo que afeta uma pessoa de uma maneira pode afetar outra de forma completamente diferente, ou não afetá-la sequer.

Ouvimos falar de pessoas que passaram por experiências extremamente traumáticas e não perderam a vontade de viver, nem o entusiasmo pela vida. Talvez nós mesmos tenhamos passado por alguma. Não é possível saber exatamente como as pessoas ultrapassam certas experiências, até porque as pessoas são muito diferentes e o que funcionou para uma pode não ser indicado para outra. Mas se sairmos do nosso pequeno mundo e pensarmos no que será viver neste momento em algumas regiões do Congo, por exemplo, um dos países do mundo mais perigosos para as mulheres, podemos encontrar alguns exemplos impressionantes.

Há uns meses vi uma reportagem sobre um médico ginecologista congolês, Denis Mukwege, em que este dizia já ter desabado a chorar inúmeras vezes, quando lhe colocaram nos braços bebés de poucos meses no limiar da morte, após terem sido violadas, assim como as suas mães, irmãs e avós, todas vítimas das atrocidades de guerra civil do Congo. Segundo este médico, a violação em massa é perpetrada e incentivada - frequentemente com enorme crueldade e violência - como forma de humilhar as mulheres, e também os homens, seus familiares. O próprio médico e a sua família sofreram um atentado que quase tirou a vida a um dos seus filhos, por denunciar a violação como arma de guerra, que diariamente testemunha, e tentar ajudar estas mulheres.

Durante a reportagem, sucediam-se as imagens surpreendentes: no hospital fundado por Denis Mukwege, unicamente para auxiliar as mulheres vítimas destes crimes, era possível ver e ouvir algumas delas a cantarem juntas, até a sorrirem, talvez semanas após serem vítimas de crimes inqualificáveis que quase lhes tiraram a vida e que tiraram efetivamente a vida a muitos dos seus familiares. Após o atentado à sua família, o médico ginecologista ausentou-se da prática, mas estas mulheres agradeciam-lhe e cantavam para ele - sabe-se lá a que custo - pedindo-lhe que voltasse. E ele voltou.

Diante de tudo isto pensamos, como é possível ter tanta força e vontade de viver, volta a sorrir após experiências e perdas destas, após tão grande sofrimento? Há situações tão extremas, tão no limite do suportável, que parece não haver escolha nem meio-termo: ou se segue em frente, ou o peso da tristeza seria grande ao ponto de afundar e afogar a pessoa no próprio sofrimento. Estas mulheres são um impressionante exemplo da capacidade de sobrevivência do ser humano, e da sua resistência física, psíquica e emocional.

Regressando à esfera do pessoal, algo que pode prejudicar seriamente a nossa vontade de viver é começar a avaliar a justiça ou injustiça do que nos acontece e acontece aos outros. Por mais que sejamos tentados a fazê-lo, é inútil, e absurdo, como é tudo aquilo que dizemos sem conhecimento de causa. Como justificar que bebés, que mal começaram a viver e não tiveram ainda a possibilidade de cometer qualquer “injustiça”, passem por situações como a descrita acima? Esse tipo de abordagem não faz, portanto, qualquer sentido. Até conhecermos os mistérios e as leis que regem este mundo - e o Cosmos - é melhor procurar as respostas ao que podemos realmente saber, e ao que pode fazer a diferença na nossa vida, nomeadamente, como vivê-la de forma a nos sentirmos realizados e felizes, (o mais possível) independentemente das circunstâncias exteriores.

A dificuldade que temos em aceitar o que a vida nos dá tem muito a ver com as nossas expectativas para ela. Provavelmente, quem nasce num país em guerra ou numa situação de extrema pobreza, não terá muitas expectativas – nunca conheceu outra realidade - para além de conseguir para si e para a sua família o pão e sobrevivência para o dia seguinte, e sair dessa situação. Por outro lado, para quem nasceu num país de primeiro mundo e se habituou a determinados padrões de vida e de riqueza – e também nunca conheceu outra realidade -, deve ser muito difícil ver-se numa situação de desemprego, por exemplo, ou sofrer outra perda que altere substancialmente a realidade a que se habituou.

São tipos de sofrimento muito diferentes, mas ambos válidos, porque o sofrimento sentido internamente é sempre real. Não faz sentido sofrer e, além desse sofrimento, ainda sentir culpa por haver quem sofra mais. Isso seria sofrer duplamente. Mas podemos, e devemos, observar as outras situações, colocar o nosso sofrimento em perspetiva e relativizá-lo tanto quanto possível. A realidade que criamos é algo de extremamente poderoso. Em grande medida, ela não depende de fatores externos, mas das nossas próprias tendências internas e da nossa vontade. Aquilo que nos move, sejam ideias, ideais, ambições ou crenças, são os fios com que tecemos o nosso mundo. E o nosso mundo é a realidade que criamos com o que a vida nos dá, por isso temos sempre a possibilidade de alterá-lo, se o pensarmos de uma forma diferente.

Se uma pessoa quer matar-se por algo que já não tem, seja outra pessoa, um emprego ou um certo nível ou qualidade de vida, etc, é porque a sua vontade de viver depende em grande medida de algo exterior a si mesma, que está sempre condenado a falhar em alguma altura. Então, a nossa vontade de viver não pode depender de algo exterior a nós: ela é e será afectada continuamente por factores exteriores – pessoas, crises, guerras, catástrofes naturais – mas a nossa vontade de viver não pode depender da nada disso.

Fazê-lo, na prática, exige grande esforço, mas em alguns casos, a vontade de viver é talvez a única opção, para sobreviver a algumas experiências limite. É como se a Vida nos testasse e obrigasse a vivê-la com vontade, ou não vivê-la de todo. E se na vida não há como fugir aos problemas, nem existem problemas que se resolvam sem sermos nós a resolvê-los, é provável que após a morte se passe algo semelhante, e que o mesmo problema nos seja apresentado com outra “roupagem” em reencarnações subsequentes, até que a sua origem seja resolvida e neutralizada.

Então, se não há como fugir à vida - nem à morte -, nem como resolver problemas - mesmo com a morte – vamos viver a vida com vontade... e quem sabe, a morte, quando ela um dia chegar! Ela é apenas a face não visível da vida.

Vera Vieira da Silva

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artigo do parceiro: Vera Vieira da Silva