Qual é o motivo de tão grande
fascínio pela "Guerra dos Tronos"? Como é que uma série de apenas dez
episódios por época, e largos meses de intervalo entre cada uma, consegue ter
um público tão vasto, fiel e entusiasta? Qual é o segredo do sucesso desta
série?
Desde os primeiros episódios, a
Guerra dos Tronos soube cativar o público pelo interesse da narrativa, pelas emoções fortes e contraditórias que provoca, e por saber surpreender através de um enorme grau
de imprevisibilidade. Algumas personagens em particular, e os seus destinos,
ligam-nos irremediavelmente à Guerra dos Tronos, despertando o desejo
de saber a que alturas chegarão um dia, desejo esse que tem sido por diversas
vezes interrompido por mortes prematuras, algo comum nesta série. Tanto a
morte, como a forma de morrer, são quase objecto de culto na Guerra dos Tronos.
Há inclusive uma página oficial da série na Internet chamada ‘Beautiful Death’,
com representações gráficas da morte de cada personagem.
Entre as muitas personagens
interessantes da série, Daenerys Targaryen é uma das mais fascinantes e senhora
de uma imensa coragem e instinto de sobrevivência. No primeiro episódio - e
ainda uma menina - foi praticamente vendida pelo irmão ao temível guerreiro e líder dos Dothraki, Khal Drogo. Mas a sua incrível vontade de viver não deixou que se sentisse vítima por muito
tempo. Com a ajuda dos conselhos de uma mulher mais experiente nas "artes
do amor", Daenerys ganhou coragem e enfrentou Khal Drogo, tomando a
dianteira... e chegando ao seu coração. A partir daí fomos testemunhas de uma
bela - e trágica - história de amor. A expressão "My sun and stars... Moon of my life" não será esquecida pelos fãs desta série, nem
a imagem de Daenerys a erguer-se das cinzas da pira funerária do seu amado, com
três pequenos dragões ao colo, que eram já um mito na realidade da própria
série.
Outras das mais adoradas personagens da Guerra dos Tronos é Jon Snow, o filho bastardo de Ned Stark, que
inicialmente luta para encontrar o seu lugar na família do pai, e na última época ainda em exibição luta com os terríveis Whitewalkers, seres que se
encontram algures entre o reino dos vivos e dos mortos. De incríveis instintos
e a coragem de quem não tem nada a perder, Jon tem amor ao perigo (apaixonou-se
pelo "inimigo") e um imenso coração, que encontra amizades
improváveis entre os mais desfavorecidos e excluídos, como ele. Ou Tyrion
Lannister, senhor de enorme astúcia, inteligência aguçada e um grande (e único) sentido de humor, que muito contrastam com o tamanho do seu pequeno corpo. Tyrion é
surpreendentemente equilibrado e benevolente, sobretudo para alguém que foi
excluído pela maior parte dos seus familiares desde a nascença e culpado da
morte da mãe por esta ter morrido ao dá-lo à luz.
Mas uma das características mais
interessantes da Guerra dos Tronos, e que a tornam muito realista, é o
facto de ser difícil por vezes distinguir os "Maus" dos
"Bons". Praticamente todos os personagens, até os mais adorados pelos
fãs da série, têm frequentemente atitudes excessivas e condenáveis, mesmo que
em alguns casos compreensíveis, por serem uma espécie de "mal menor".
Alguns personagens, como Sandor Clegane, deixam os espectadores verdadeiramente
confusos, porque ao mesmo tempo que são conhecidos por cometerem crimes odiosos
e sacrificarem inocentes, são capazes de atitudes muito protectoras e até de
auto-sacrifício por aqueles que (surpreendentemente) lhes tocaram o coração
(Sansa e Arya Stark). Outros ainda, fazem-nos acreditar ser possível viver sem
ter um coração a bater no peito (Joffrey, The Mountain, Ramsay).
Esta é uma série de imagens
intensas, emoções fortes e um grau de violência muitas vezes no limite do
suportável, levantando inúmeras questões relativamente ao entretenimento hoje
em dia e à banalização da violência. Talvez um dos motivos do
sucesso da Guerra dos Tronos seja a representação dos instintos humanos mais
básicos, tão visíveis e reconhecíveis no mundo de hoje, e que têm as rédeas soltas
nesta série: o desejo de dominar outros através do poder, da força, do
dinheiro, do sexo e da argúcia. Estas questões apenas, dariam para encher de
livros várias prateleiras, e decerto encherão um dia.
A série aborda ainda a questão do fanatismo religioso e da utilização da religião como meio em que tudo é justificável para se atingir um fim, apresentando ainda laivos do mítico combinados com a realidade (os dragões). Para bem e para mal, a Guerra dos Tronos apresenta personagens e histórias que simbolizam
muitos dos problemas das sociedades actuais e representam as principais
questões que assolam o mundo, ameaçando a coesão social e as liberdades individuais.
A Guerra dos Tronos é uma série
que ainda vai certamente fazer correr muita tinta na imprensa internacional, e
muitas lágrimas de tristeza e de entusiasmo entre os seus fãs.
(Vera Vieira da Silva)
#guerradostronos #gameofthrones
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