terça-feira, 13 de março de 2018
domingo, 11 de março de 2018
A Busca do Silêncio
Pico, Açores | Julho de 1992 |
Os vulcões fascinaram-me desde muito pequena. Numa altura em que devorava informação sobre vulcanologia, uma viagem até aos Açores, nomeadamente com a perspectiva de uma visita ao Pico, deixou-me muito entusiasmada. Por isso não me importei nada de acordar de madrugada naquele dia, para começar a longa subida até ao cume do Pico. Depois de tantos anos as memórias vão-se esbatendo, mas lembro-me claramente da vontade e da curiosidade que sentia, como se aquela caminhada fosse algo de mágico.
A caminho, lembro-me das diferentes cores da lava solidificada à superfície e misturadas com o verde das ervas, dos antigos canais de lava perfeitamente desenhados - alguns de dimensões consideráveis - e expostos pelo tempo, com fracturas que permitiam ver o seu interior. Lembro-me ainda de um buraco imenso - talvez um enorme canal de lava - de tal profundidade que as pedras que atirámos para dentro dele nunca mais se ouviram, como se o buraco não tivesse fundo. Estas experiências foram ainda mais impressionantes do que esperava, mas o que realmente me marcou foi o silêncio que ouvi naquele lugar.
O silêncio que ouvi no Pico não foi um silêncio qualquer, nem uma mera ausência de sons. Nunca deixei de ouvir o zumbido de insectos, as vaquinhas que mugiam ao longe ou o ocasional soprar do vento. O silêncio de que falo é um silêncio descritível, mas inexplicável. Lembro-me de o descrever aos meus pais como um silêncio que fazia "barulho". Era como um som sem som, que vibrava nos meus ouvidos e no meu corpo e que co-existia com os sons da natureza, apesar de distinto destes. Muitas vezes identificamos o silêncio com um vazio, mas este som era "cheio", quase palpável. Um som que era uma presença e não uma ausência. Apesar da minha tenra idade na altura, senti aquela experiência no Pico como algo de misterioso e espiritual.
Aquele silêncio do Pico marcou-me de tal maneira, que mesmo passados cerca de 25 anos, lembro-me regularmente dele e falo com frequência nesta experiência a outras pessoas. É um silêncio que busco constantemente noutros lugares. O mais próximo deste silêncio é o que sinto quando estou no meio da natureza, admirando a sua perfeição, ou por vezes quando estou em silêncio comigo mesma.
A experiência que tive nos Açores tornou-se para mim uma espécie de símbolo de um "Silêncio" que quase todos procuramos, que não é a ausência de som mas sim a procura de um sentido e de uma pertença a algo muito maior que nós mesmos, um Mistério que não compreendemos, e que reside dentro e fora de nós. Que possamos todos aprender a ouvir essa voz do Silêncio.
sexta-feira, 2 de março de 2018
Templo de Palavras
Com alegria informo que no próximo dia 3 de Março, às 15h30, a Editorial Minerva vai fazer a sessão de apresentação da Antologia Poética "Templo de Palavras", nº5, que inclui quatro poemas da minha autoria. O local será a Biblioteca Municipal D. Dinis, em Odivelas. Será uma honra poder contar com a vossa presença.
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